sábado, 23 de junho de 2007

Partir



Partir por outra estrada e perder esta de vista, em passos de bailarina pelo asfalto quente,
em corridas de chita para furar o vento.
Perder de vista o verde destas árvores e o azul deste mar,
achar outros, amar outros. O vermelho, o lilás, a púrpura, a paz.
Descobrir mais e matar esta sede insatisfeita de algo que não decifro nem percebo,
mas que me faz falta, que me incompleta.
Partir e esquecer o caminho de volta, o comum, o igual,
Ir só ao sabor da maré, ao sabor da brisa quando entardece.
Sem rota, sem destino, sem motivos, sem porquês. Sem olhar para trás, só uma vez.
Com os ombros nus, em pé de chinelo. Simplicidade é a única regra neste voo.
Quero ser garota de Ipanema, quero encontrar magia de cinema.
Ser areia e sal na pele, ser pele contra pele, ser toque.
Partir e provar sabores, apurar sentidos.
Evadir-me em espaços e paixões sem forma, sem hora e data marcada.
Quero ser o beijo sem compromisso e o abraço forte de quem parte.
Partir e deixar para trás o tempo, que não existe e que lá não faz falta.
Quero enfrentar os meus fantasmas, ser coragem e espada. Ser vencedora de mim.
Partir e encontrar algum lugar. Ser céu, ser sol, ser luar.
Esquecer de ti e daqui e dali.
Com sorriso na bagagem, só sorriso. Porque ser livre não custa.
Quero rouquidão, de quem perde a voz a dançar e cantar.
Quero tatuar-me de vida, ser insensatez e vontade.

Sentir de todas as maneiras, até exaustão de um corpo que cai feliz na cama.
Partir e gastar baterias, partir e recarregar energias.
Vou cavar espaço na memória para não perder pitada.
Partir e viver cada curva da estrada.
Quero ser o que eu tiver de ser, o que me apetecer.
Como disse alguém, vou-me perder para me encontrar.
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