terça-feira, 23 de setembro de 2008

eco

Há alturas de alguns dias em que só te quero arrancar de mim. Juro-te seu palerma.
Sai de mim, seu eco, palerma! Tu e eu. Sai de mim, monólogo.
Não me canso de te recitar e ainda assim tenho plena noção que não te conheço, que estás tudo menos decorado, meu palerma. Que vazio, que buraco na minha alma.
Mero monólogo, mero? Eu amo.
Não há amor no eco. Que loucura…poderá haver? Ás vezes és tão real, tenho tanta convicção que és mais do que frases que imagino e escrevo. Depois há só um eco, e uma melodia suave, com notas que se repetem e não descodifico, que me embalam quando fecho os olhos.
És uma ilusão, e eu não me canso de te alimentar. Porque quero. Quero-te muito, quero o que podes ser real.
Se gosto? de viver apaixonada por uma ilusão? Masoquismo puro.
O meu mal é acreditar, sempre foi. Acreditar em ti e em nós. Estarei maluca?
Não sei não ser sincera, não ser verdade comigo e contigo, com o que sinto e desejo.
Não sei deixar de te querer e de pintar este quadro.
Sai de mim! Mesmo que eu não queira, sai por uns minutos! Só para experimentar como é sem o mais pequeno vestígio. Sem o teu murmúrio baixinho, doce. Peço-te.
Sabes que eu me adoro, e tu fazes-me querer estar no meu melhor. Contribuis de uma forma positiva para o meu viver, digamos assim. Hoje vivo por mim e um bocadinho por ti, percebes? Eu também não, descansa…
Hoje vesti o vestido preto curto, sim, o que se aperta com um laço na cintura, que outrora arrancaste cheio de desejo de chegar ao meu corpo, de o ver só e nu, com essas mãos grandes e frias. Sempre viste com as pontas dos dedos, quando existias e me querias tua.
Perco-me…
Vesti o vestido preto e pintei os olhos com o lápis verde que gostavas. Um detalhe - costumavas adorar detalhes, não era? Se calhar é mais um dos meus devaneios, ou outro ponto que acrescentei a esta história. Imaginação não me falta. Se adorasses detalhes devias estar aqui agora, tinhas de estar. Ou és mesmo parvo e só eu não vejo.
Hoje vesti o vestido preto, pintei os olhos de verde, soltei o cabelo loiro e saí.
Vim passear, a ouvir bossa-nova no Ipod, a sentir esta luz de quase Outono bater-me nos olhos e a cidade cheia de vida e de cor. Vim passear, respirar. Que bem que a cidade me faz, e este vestidinho preto. Este sol.
A conjugação perfeita para te encontrar. Assusta-me, assusta-me pensar que possas ter motivado tudo isto… Tu e possibilidade de te encontrar. Seu fantasma, ilusão, monólogo, eco.
Não, eu sempre adorei perder-me pela baixa e os meus vestidos curtos. Não foi por ti.
Mas hoje é diferente, hoje estou inquieta, falta-me qualquer coisa, falta qualquer coisa a esta vista, a este banco verde a imitar os antigos, neste miradouro recuperado. Falta qualquer coisa à minha música, aos meus olhos pintados. És tu, seu palerma. Nem o cigarro sabe igual.
Só a possibilidade de estares perto… Fazes-me bem só de imaginar.
Gostava de te ver! Para o meu coração disparar. A querer fugir-me do peito e sair pela boca ou por qualquer poro distraído, para ficar tonta e leve e cheia de tudo e de mais um pouco. Completamente desorientada, sem chão e sem ar.
Gostava de te ver passar para me dar sentido, dar sentido a tudo o que sinto e escrevo, para deixar de ouvir só este eco de resposta. Este desaconchego na alma. A tua voz… Este nada.
Sai de mim, porque eu não sei tirar-te daqui. E eu tento, juro-te que tento. E não quero, é lutar contra mim. Mas estou a dar em louca, estou cansada de não te abraçar. Estou cansada de achar que amo alguém que não existe e que eu inventei, porque quando apareces és verdade. A verdade mais intensa, mais profunda e completa que provei.
Sai de mim, ou entra. Sê qualquer coisa seu palerma, meu amor.
Fazes-me falta, porra.