Sabe-me a pouco a boca e o peito amargo.
Num sufoco zumbido, que não mata mas mói,(mói e dói).
Sabe-me a pouco ser assim impotente, não ser indiferente.
Sabe-me a pouco o esboço que fiz de nós, não saber sem tinta.
(Os esboços que nunca deixaram de o ser, e ficaram por pintar.)
Sabe-me a pouco a boca e o peito amargo, amargo não, frio.
Sabe-me a pouco o teu sorriso na mente sem o teu cheiro no corpo.
Sabem-me a pouco as palavras que escrevo, (e não grito),
Automaticamente ensaiadas, fingidas. Letras combinadas, esquecidas,
Perdidas, como eu.
Que faço de mim, bonita, incompleta, sem câmara, sem fita, sem Poeta?
Que faço ao que tenho cá dentro? Relativizo-o a vento?
Não quero saber a assim.
Sou bicho do mato à procura de toca, borboleta sem casulo,
Ninho que nunca o foi.
E não quero saber mais assim.
Mas tu foges com o medo, meu amor, e levas o teu encanto contigo.
Não ficas antes comigo, no meu abraço que já é teu.
Foges com o medo, no vento.
E eu também fujo, ou tento.
Mas eu não quero saber assim.
Ainda assim, sou mulher se te deixo e menina se acredito?
Podias dançar-me até ao fim, enquanto o piano toca.
Gosto demais de tango para dançá-lo sozinha,
E tu és um bom par. (Imagino)
Irreflectida, irracional, impulsiva.
Intensificada, exagerada, apaixonada?
Paixão é simples, descomplicada.
No mínimo, verdadeira, é o que sei saber.
Não te minto que te quero, (sabes-me a pouco), tu sabes, mas inteiro.
Volto a ser pássaro sem direcção,
Volto a ser sem ser de todo,
Mas tenho o mundo e o por-do-sol comigo.
Sabe-me tanto este sabor a pouco.
Sabe-me a pouco o sabor a tanto.