Quando acordei não estavas aqui, cheirava a relva molhada e ouvi a mangueira no jardim. Que mania a tua de regar de manhã, sem antes me abraçar de Bom dia.
É sempre estranho, ainda hoje passados tantos anos, acordar sem te ter ao meu lado. Faz-me falta o teu abraço de manhã, o teu abraço que me enche de força e produz tanta energia.
Preciso dele para funcionar, já não te disse?
O teu abraço, meu melhor abraço, abraço de sonho e de mais ninguem. Só tu e eu, meu e teu, nosso, nós, um.
Sempre foi assim. Lembras-te? Aquele nosso primeiro abraço, meu Deus, como foi aquele abraço.
Soube à partida que não te deixava mais. Abraçaste-me e gritaste mudo ao céu da noite que não me podias deixar.
E nessa noite fria de Inverno, quando o calor do teu corpo prendeu o meu, e os teus braços foram concha do meu corpo de mar, tão frágil, tão forte, tão seguro e familiar... Apaixonei-me por ti e pelo nosso abraço.
Nunca o meu corpo teve outra forma, nem as minhas mãos encaixaram outro pescoço e a minha cabeça outro peito que não o teu. Não assim, como se soubessem o caminho, como se fossem feitos para encaixar.
Fomos magia nesse abraço. E jurei-te que não éramos pó. Aquele abraço era muito mais que cinza que se vai no vento. Não era pó, nem cinza. Era magia, meu amor.
E agarraste-me, prendeste, entraste em mim tão abrupto e intenso, tão poderoso, como se amanhã não viesse mais, nem houvessem mais abraços teus e meus e nossos.
Tremiam-me as pernas e o coração acelerado, que te desejou para sempre nesse abraço, entre olhares e arrepios, e o tempo parou.
O tempo parou e o mundo parou e calaram as vozes e os carros e a música que tocava lá dentro na tua sala, e a música que eu ouvia na mente e as vozes da tua alma. Tudo isso calou e parou.
Éramos jovens e medo, e desordem e caos, e euforia, e desejo, e vontade nesse abraço.
Ainda o somos, hoje, quando nos abraçamos de Bom dia.
Como se não houvessem mais noites e manhãs, e braços e pernas que tremem, e magia, e pó, e inocência e vozes que calam em tempo que pára e abraços nossos. Assim.
Trazes um copo de sumo da cozinha, sorris e vens me abraçar ainda com as mãos molhadas.
quarta-feira, 18 de junho de 2008
segunda-feira, 16 de junho de 2008
despertar
Crias e recrias, fazes produções fictícias que mudam a cor do céu.
E vês um arco-íris, só teu.
Alucinação pessoal que te move e te alimenta.
Crias e recrias, escreves finais possíveis ou felizes para a tua história.
E ao longe um cavalo preto e um sorriso aberto, só teu.
Alienas-te do real sem sabor, caramelizando pequenos detalhes que te marcam.
Crias e recrias, imaginas a tua estrada repleta de sol e encontras um lugar à sombra.
E tens um braço pelas costas, só teu.
Delírio pessoal que te aconchega.
Crias e recrias, escolhes o comboio sem te preocupar com a linha.
Não saltas fora. Insistes em chegar ao destino, só teu.
Não por curiosidade, tão pouco por teimosia...
Crias e recrias, escolhes o que queres ver e logo a seguir vendas os olhos.
Constróis castelos no ar, decoras castelos no ar, plantas flores no jardim do teu castelo no ar, só teu.
Tens, pelo menos, coragem de te permitir amar.
Crias e recrias, queres sapos com graça. Não gostas de príncipes, nem de lugares comuns.
Ainda assim, queres um happy ending, só teu.
Não te cansas de correr atrás do fugaz e insistes apanhar o improvável.
Vais criando e recriando, vais andando..
É acreditar no que existe para lá do óbvio que te guia? É a possibilidade eloquente e romântica de encontrar a peça que te falta? A que encaixa, única e insubstituível?
A boa noticia é que não há quebra-cabeças nem puzzles por resolver.
Há sentir, há amar, há querer. Simples.
O despertar inevitável.
E vês um arco-íris, só teu.
Alucinação pessoal que te move e te alimenta.
Crias e recrias, escreves finais possíveis ou felizes para a tua história.
E ao longe um cavalo preto e um sorriso aberto, só teu.
Alienas-te do real sem sabor, caramelizando pequenos detalhes que te marcam.
Crias e recrias, imaginas a tua estrada repleta de sol e encontras um lugar à sombra.
E tens um braço pelas costas, só teu.
Delírio pessoal que te aconchega.
Crias e recrias, escolhes o comboio sem te preocupar com a linha.
Não saltas fora. Insistes em chegar ao destino, só teu.
Não por curiosidade, tão pouco por teimosia...
Crias e recrias, escolhes o que queres ver e logo a seguir vendas os olhos.
Constróis castelos no ar, decoras castelos no ar, plantas flores no jardim do teu castelo no ar, só teu.
Tens, pelo menos, coragem de te permitir amar.
Crias e recrias, queres sapos com graça. Não gostas de príncipes, nem de lugares comuns.
Ainda assim, queres um happy ending, só teu.
Não te cansas de correr atrás do fugaz e insistes apanhar o improvável.
Vais criando e recriando, vais andando..
É acreditar no que existe para lá do óbvio que te guia? É a possibilidade eloquente e romântica de encontrar a peça que te falta? A que encaixa, única e insubstituível?
A boa noticia é que não há quebra-cabeças nem puzzles por resolver.
Há sentir, há amar, há querer. Simples.
O despertar inevitável.
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