quarta-feira, 18 de junho de 2008

abraço revisitado

Quando acordei não estavas aqui, cheirava a relva molhada e ouvi a mangueira no jardim. Que mania a tua de regar de manhã, sem antes me abraçar de Bom dia.

É sempre estranho, ainda hoje passados tantos anos, acordar sem te ter ao meu lado. Faz-me falta o teu abraço de manhã, o teu abraço que me enche de força e produz tanta energia.
Preciso dele para funcionar, já não te disse?
O teu abraço, meu melhor abraço, abraço de sonho e de mais ninguem. Só tu e eu, meu e teu, nosso, nós, um.
Sempre foi assim. Lembras-te? Aquele nosso primeiro abraço, meu Deus, como foi aquele abraço.
Soube à partida que não te deixava mais. Abraçaste-me e gritaste mudo ao céu da noite que não me podias deixar.
E nessa noite fria de Inverno, quando o calor do teu corpo prendeu o meu, e os teus braços foram concha do meu corpo de mar, tão frágil, tão forte, tão seguro e familiar... Apaixonei-me por ti e pelo nosso abraço.
Nunca o meu corpo teve outra forma, nem as minhas mãos encaixaram outro pescoço e a minha cabeça outro peito que não o teu. Não assim, como se soubessem o caminho, como se fossem feitos para encaixar.
Fomos magia nesse abraço. E jurei-te que não éramos pó. Aquele abraço era muito mais que cinza que se vai no vento. Não era pó, nem cinza. Era magia, meu amor.
E agarraste-me, prendeste, entraste em mim tão abrupto e intenso, tão poderoso, como se amanhã não viesse mais, nem houvessem mais abraços teus e meus e nossos.
Tremiam-me as pernas e o coração acelerado, que te desejou para sempre nesse abraço, entre olhares e arrepios, e o tempo parou.
O tempo parou e o mundo parou e calaram as vozes e os carros e a música que tocava lá dentro na tua sala, e a música que eu ouvia na mente e as vozes da tua alma. Tudo isso calou e parou.
Éramos jovens e medo, e desordem e caos, e euforia, e desejo, e vontade nesse abraço.
Ainda o somos, hoje, quando nos abraçamos de Bom dia.
Como se não houvessem mais noites e manhãs, e braços e pernas que tremem, e magia, e pó, e inocência e vozes que calam em tempo que pára e abraços nossos. Assim.

Trazes um copo de sumo da cozinha, sorris e vens me abraçar ainda com as mãos molhadas.